segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um conto para pessoas que não são felizes


Essa é a história de um rapaz que morreu de tristeza.

O vi andar na rua umas duas ou cinco vezes. Cabeça baixa, passos alinhados e desastrosamente entrelaçados. Achava engraçado a forma que sua blusa social branca se dividia: uma parte dentro da calça e a outra para fora como quem não se importava com aparência. Foi por isso que notei o rapaz que morreu de tristeza.

Não me lembro se era bonito, lembro que sua boca tinha formato de fruta silvestre e seus olhos nunca sabiam ao certo a cor do céu, pois nunca olhava para cima. A primeira vez que o encontrei estava sentada no banco comendo meu sanduíche antes de ir para o trabalho. O rapaz se sentou ao meu lado falando ao telefone.

- De amor ninguém morre, vou tentar me acalmar.

Desligou o telefone e colocou as mãos fechadas no meio das pernas abertas que esmagavam o chão. Naquele momento jogaria meu sanduíche no lixo e daria um abraço de esmagar o coração naquele rapaz que um dia morreria de tristeza. Mas o sanduíche me custara seis horas de trabalho e de amor ninguém morre.

As outras vezes que o vi foram iguais a primeira, exceto pelo telefone apertado entre os dedos. Ele já não existia. O banco era um ponto de ônibus, ônibus que parecia nunca chegar.

Parece bobagem ou exagero, mas o rapaz realmente morreu de tristeza.

Na manhã de sábado, às oito e quarenta e sete o rapaz foi para o banco esperar o 002, o único ônibus que ia para o final da cidade, quase na divisa entre um estado e o outro. Por viver sempre com a cabeça olhando para chão, creio que não tenha visto o ônibus, pois o mesmo parou, deixou pessoas, levou outras e o rapaz continuou estável.

Minutos depois, antes do meu transporte chegar para me levar até o trabalho, o rapaz olhou para mim. Olhou tão bruscamente que não consegui enxerga-lo, apenas notar que seus olhos eram castanhos e quase não havia cílios em suas pálpebras.

- Tem dias que não da pra fugir.

Atordoada minha única resposta foi um olhar, que o fez prosseguir.

- Minha senhora, fique com meu celular. Ligue para quem achar necessário e conte para quem quiser ouvir: Por amor a gente morre.


E antes que eu pudesse entender o que o rapaz com a camisa branca social desarrumada quis dizer, ele se atirou em um carro preto cromado na quinta avenida. Como se soubesse que o carro estivesse à 60km/h e seu destino escrito nos vidros quebrados de frente ao motorista.

Disseram nas manchetes que ele era algo como "maníaco depressivo crônico". Um rapaz que nunca se encaixou na sociedade e que todos os amigos temiam seu final. Eu não era sua amiga, mas sabia que não era depressão. No meu depoimento sobre o caso não coube a palavra "amor" nos jornais, me falaram que ninguém morre por amor.


Tudo bem, deixe todo mundo achar que era por tristeza.


Essa é a história de um rapaz que morreu de tristeza.

Mas no fundo,

é só mais uma história mal feita sobre o amor.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Lembrando Domingo


Sou uma pessoa tradicional, que gosta de atitudes tradicionais. Somente mais um cara no mundo que tenta se desligar dos sonhos, colocar um sapato e fixar os pés no chão na hora de ir trabalhar. Há duas semanas não tenho andado tão tradicional. Não me perguntei o porquê, só não estou. Comecei minha rotina da noite passada, rotina que nunca tive, tampouco as duas da madrugada. Descobri o poder do álcool, aposto que você que esta lendo já bebeu várias vezes, mas eu descobri esses dias e não tenho estado sóbrio desde então. Não gosto de beber, mas das coisas que gosto e não gosto essa é a única que me desliga do mundo. Vou até a sacada, 02:14 mostra o relógio que comprei no antiquário da cidade, abro e mexo nos ponteiros para tentar fazer voltar o tempo. Nada acontece. Me inclino na varanda para sentir o vento soprar no meu rosto. Abro os olhos rapidamente, me lembro porque comecei a beber e pego uma dose de Whisky. Lembro de domingo e cambaleando caio de joelhos me perguntando pela primeira vez: Por que? 

-

Era o fim, eu sentia desde o começo que era o fim. Percebi não pelo olhar, ou por alguma frase dita indiferente. Percebi pelos ovos. Fritei um para mim, e outro para ela. Como de costume. Ela havia me dito uma vez que gostava de comer seu café da manhã devagar para ficar mais tempo me observando, sentindo meu cheiro que vinha com a brisa da manhã. Percebi que ela tinha terminado os ovos rápido e fiquei apreensivo da sensação que senti. Pouco depois, me chamou na escada sorrindo de lado e me puxando para o quarto. Será difícil sentir tanta vontade de estar lá dentro como naquela vez. Até aquele momento. Quando fui me trocar, percebi ela sentada na cama olhando para nosso retrato na estante. Não precisei dizer nada, ela sabia que tinha de dizer. Iria embora, não me deu motivo nem razão. Simples assim e saiu pela mesma porta que me fez entrar tão feliz. Sabe quando a gente sente que não vai durar? Eu sabia. Foi esse o motivo de ter deixado ela ir sem dizer: Volte meu amor, volte. Me perdoe se estou sendo frio ou sensível demais, como disse sou tradicional e não sei como sou diante dessa situação. Naquela noite sonhei com ela, sonhei que estava sonhando que perdia ela dentro de outro sonho. Sucessivamente assim, correndo dos meus sonhos. Fui até seu prédio e sem me dar conta perguntei ao porteiro se ela se encontrava. Não. Ele disse que ela havia saído e eu perguntei onde estava, como se ele me levasse ao lugar fora dos meus sonhos que ela havia se escondido. Fiquei louco e bêbado. Comprei a aliança no outro dia. 



- Eu não esperava nada dela, por isso não fazia perguntas intensas como: Por que? Ela não acreditava no amor, e eu acreditar não faria ela sentir. Então fazia assim, sentia por mim e por ela. Porém, estava determinado a convencê-la que o modo que as borboletas batem as asas, seu ritmo e suavidade, era o mesmo que sentia no estômago quando estava com ela. Só via uma risada irônica matar as borboletas dentro de mim. Passei uma semana acordando os vizinhos e mandando pessoas da rua entregarem flores a ela no trabalho. Todos voltavam dizendo que ela não estava. Por um tempo achei que estava sendo ignorado. Por um tempo. Até que consegui entrar no prédio, e ao tocar a campainha 54 vezes, resolvi bater na porta ao lado. Havia se mudado para longe, pois estava sofrendo com uma doença terminal. Sai do prédio segurando meu choro, quando começou a chover tornando tudo mais fácil para mim. Nunca havia parado para pensar nos gestos, e expressões dela até então, quando começou a tudo fazer um pouco de sentido. As nuvens me acompanharam a caminho de qualquer lugar tentando encontra-la. Qualquer lugar, onde ela pudesse ao menos ter estado. 



- Voltamos ao início dessa conversa. Estamos tendo uma conversa não? Pois bem, passei 4 longos dias tentando encontrar qualquer sinal de onde ela se encontrava, mas descobri que com ela era assim. Não podia ir atrás, ela que fazia suas regras mesmo sem querer entrar no jogo. Hoje voltei para casa e encontrei uma carta jogada sem jeito do lado de dentro da porta. Quando o destino pega para surpreender, deve ser para provar que realmente existe. Não era conta de luz ou água. Amassei levemente sobre meu peito e comecei a ler: "-- Já deve saber que não irei voltar. Me desculpe, sei que fiz uma coisa muito errada e não queria te olhar ao perceber que talvez eu não era tão certa para você. Estou com medo, sempre tive medo. Você me fazia ser quem eu sempre quis, sempre esperei. Por isso agia com você como se duvidasse de tantas coisas, você esperava isso de mim. Seria mais fácil. Hoje está chovendo, último dia de chuva para mim e ela esta lavando você dos meus cabelos e da minha mente. Estou afastada do mundo e sinto que estou no 20° andar e irei pular sem você em baixo para me segurar. Não irei pular, mas será como se fosse. Estou indo embora, mas estarei com você para sempre. Eu te amo. Sim, depois de você. Eu sempre acreditei no amor."


-- Lembra que cai de joelhos? Pois então, deitei no chão e dormi. Ela voltou para os meus sonhos, eu acho que irei para casa agora. 



(Baseado na música Remembering Sunday - All Time Low)

http://letras.terra.com.br/all-time-low/1067870/traducao.html