domingo, 9 de setembro de 2012

O homem que vendia o amor



*Olá, meu nome é Pedro e estou há dez anos sem amar.*

Ouvi palmas de todos os presentes na sala. Era uma sala pequena e com muitas cadeiras. Setenta e seis, contei. Qualquer coisa para me distrair naquela sala seria bem vinda, qualquer coisa que não fosse eu e meu falso moralismo. Fui para dar uma palestra de como era bom e libertador viver sem o amor para um grupo de pessoas que não sabiam sequer o que era isso.

Comecei como qualquer político de esquina começaria. Me levantei e fiquei diante de todos olhando fixamente para um ponto inexistente, fingindo estar envolvido com a multidão. Sorriso largo, aparência deslumbrante e um coração cheio de merda. Isso mesmo, merda. Essas merdas que fedem tanto que conseguimos sentir o cheiro de longe e desviamos o caminho. Tudo o que eles queriam eram uma maneira de deixar de depender de outrem, de se entusiasmar com novos gostos e peles. Isso era certo, daria de bandeja para eles. Rostos cheios de esperança, vontade de mudar, corrompidos por uma ideia tão entristecida . Só mostrei que sou um bom exemplo de homem que conseguiu superar uma mulher que não me merecia.

Meu nome é Pedro e sou um pastor de corações. Virei apenas um homem que precisa acreditar que as coisas tem sua ordem e motivo para acontecer, pois é vontade do destino, o senhor de todos os tempos.

Fingir felicidade é a coisa mais fácil do mundo. Vendo meu fingimento para as pessoas que querem recompor o coração. Mas o preço é caro para quem vende mentira.

Minha vontade todos os dias era mandar aquelas pessoas irem embora para pedir perdão aos seus maridos e esposas, fazerem sexo como selvagens para esquecer que houveram brigas.  Aprenderem a parar de choramingar pelos cantos implorando amor a quem não prometeu sequer paixão. Ah, essas pessoas de hoje amam esperando reciprocidade e acham bonito desdenhar o sentimento mais bonito de todos.

Sou um vendedor de almas. Pego todas as pessoas que vem jogar fora o amor, e sem perceberem, elas é que são jogadas no lixo.

Me chamam de Pedro, o pastor de corações, mas pode me chamar de o demônio dos que ainda estão vivos. Um ceifador dos que perdem suas almas na terra, dos que rejeitam um sentimento por, simplesmente, não saber o que fazer com ele.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

E se o "se" existisse?



Gostar é engolir o orgulho. Sentir ele bater na goela e a barriga retorcer para vomitar. Paixão não sai com refluxo, paixão não sai nem engolindo sabão e lavando o estômago quarenta vezes. Essa sensação de mal estar, frio que parece enojar todo o corpo: é só o orgulho não sabendo pra onde ir.

Uma vez ouvi dizer que para conseguirmos algo na vida, principalmente no amor, é necessário bater várias vezes na porta. Tem porta que é trancada a oito, nove, dez chaves. Não da nem para arrombar.

A vida não segue mansa. É como se cada palavra sufocada entre dentes quisesse ir pelo vento arranhar os ouvidos do sujeito. Ela não me ouviria nem que todos os microfones do mundo estivessem ligados na casa dela, no máximo do meu volume.

Não é um comentário sobre amor, paixões certeiras ou saudade acumulada. Só é uma reflexão de alguém que pensava que não tinha nada a perder, e acabou perdendo quase tudo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ser ou deixar de ser, eis a razão



Todo mundo é um só termo. Gosta ou não gosta, oito ou 80, ama ou odeia.
Todos se fazem de interessante para a menina da festa e de desinteressado para a mulher na cama. A lei dos mais fortes, um sempre se encontra em desvantagem e o que sempre buscamos é: Não ser quem vai embora com a interrogação presa na garganta. 

Tenho vinte e zero anos e sempre achei que sabia demais. Sobre mulheres, homens, amigos e lugares. Sei de  nada, nadinha. Sei nem o que comi ontem no almoço se não for dar uma olhada no lixo. Com o tempo fui percebendo que de um só termo, passei a ser meio termo.

Se ta bom, deixa estar. Se ta ruim, nada que não possa piorar. Se tô apaixonado e não tenho chances, pra quê desespero? Indiretas e suor frio descendo pelo pescoço? Me diga, PRA QUÊ?! A maioria das coisas que falo e penso não tem motivos, e é exatamente por isso que as penso.

Cansei de ter motivos para procurar uma razão. As vezes cansa, não é? Porra, talvez tô lá querendo que a guria me ache interessante e ela só quer um pouco de calma na vida. Dizer que vou em festas, sou dono da melhor boate e frequento os melhores países por hobbie, e ela só quer um cara que diga pra ela dormir cedo que amanhã precisa trabalhar.

Já perdi muitos amores da minha vida por acreditar que eu era o amor da vida delas. Não sou um cara interessante, sou só um cara que se esforça pra ser.

Podem não saber disso, mas sou até legal. Não é porque sorrio só de lado e digo que sexo é a melhor coisa do mundo que eu não tenha sentimentos, mas é que apaixonar fode muito e gozamos pouco. Não da pra entender.

Veja bem, não da pra ser interessante e apaixonado ao mesmo tempo. Um dos dois a gente tem que escolher. O problema é saber qual realmente a gente é, correndo o risco de, talvez, nunca querer ser.