domingo, 13 de janeiro de 2013

É platônico até deixar de ser

Nunca tive caminho, rumo, direção.

Sempre me perdi nos ossos que deixava no canto do quarto depois de mastigar a carne. Era sempre assim, nunca do meu jeito, mas sempre do meu gosto.

Apertei milhões de quadris em minhas pernas, sufoquei milhões de gozos em minha boca, fiz de corações puro capitalismo. Chamei um táxi, e lá vai meu último encontro do dia. Sempre assim, sempre intacto.

Fiz do meu coração um lar para desabrigados e da minha mente um mar de sonhos afogados. 

Criei muitas expectativas, fiz de sonhos, solidão. 

Fiz de sorrisos, mágoas, e de minha mente, escravidão..

Jurei que amores são assim, platonicamente existenciais, platonicamente criados.

Tenho amores de primavera, amores de verão, até amores que são eternos, mas nunca amores que se eternizarão. 

Quem sabe dia ou outro paro com essa mania de criar.

Criar amores é minha maior diversão.

De todos meus romances, sei, nenhum sobrará.

Por isso crio alguns platônicos, pro coração ficar mais cheio, e a solidão menos vazia.



Vai que um dia dá certo, e eu paro de tentar. 

sábado, 5 de janeiro de 2013

Quem desdenha quer amar



Lembro que gostava de puxar seu cabelo durante as aulas. Estudávamos juntos na mesma sala e apesar de sentir quando estava ao seu lado, uma vontade incontrolável de sorrir, fazia justamente o contrário.

Quando percebia que iria ficar com cara de bobo, lá estava eu, implicando, mordendo e falando que ela era a menina mais feia que já habitou esse planeta. Todos meus amigos riam. Ela só virava as costas e ia embora. Minha vontade era de ir junto.

Isso foi na quarta série. Ainda não sabia como distinguir qual o perfume que mais gostava, doce ou afrodisíaco, mal sabia como beijava uma menina. Tempos difíceis essa quarta série.

Uma vez a professora deixou nós dois de castigo. Juntos, no canto de uma sala vazia que tinha no corredor. O motivo era claro: Precisávamos parar de brigar durante as aulas. Senti meu estômago embrulhar, contorcer e uma vontade de sair gritando pelo pátio. Quando entramos na sala permaneceu um silêncio profundo, digno de um funeral. Sabia que de mim não iria sair nada, com ela era tudo ao contrário. Como pode? Um menino de nove anos sentir tanto medo e por medo, maltratar uma pessoa.

Não lembro direito desse dia, só que chegamos a um acordo de que não nos suportávamos, mas teríamos que nos comportar na aula. Então parei de puxar seu cabelo nas aulas. Gostava de puxar seus cabelos pois com o vento da janela, o cheiro de seu shampoo ia direto para meus pulmões.

Continuei empurrando-a pelos corredores, derrubando seus livros e escondendo sua mochila. Meus amigos me perguntavam porque só fazia isso com ela. As outras estavam com espinhas, colocavam bolas de papel para parecer que tinham seios e mastigavam chiclete de boca aberta. A verdade é que nunca me importei com as outras. Ela, ela tinha o vestido rasgado perto da costela, e aquilo era a coisa mais linda que já vi. Tinha que implicar com o rasgadinho, senão iam achar que estava olhando demais. Quem olha demais, alguma coisa tem.

E tinha.

Tinha ela, tinha todo meu sentimento de pré adolescente que nunca queria crescer, só pra poder continuar implicando e discutindo com a menina mais feia que habitou a terra.

No final do ensino médio a beijei, e perguntei se queria morar um tempo no meu mundo, lá ela não era tão feia assim como eu dizia.

O que ela fez?

Me deu um tapa nas costas, me empurrou e puxou de volta.

(...)

Ah, que saudades da quarta série!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Grandes cidades de corações pequenos



Tem gente que acha que gostar é fácil. Por isso gosta muito, gosta várias vezes ao dia, gosta por gostar. Gostar é permitido, não tem amor, quem sabe paixão, mas amor não. Posso gostar de você e ir embora sem esclarecer o motivo. Tem gente que não sabe gostar.

Não sei fazer muita coisa, quem sabe um pouco de imaginação aqui, ironia ali, mas gostar eu sei. Gosto porque no mundo não existe muita poesia, e até mesmo eu que gosto tanto de ler palavras ao vento, não acho bom soltar elas por aí. 

Tem dia que gostar parece um desses momentos de raiva que passamos no trânsito: Só serve pra deixar a gente com vontade de beber. Então vou lá e bebo. Bebo até meu celular piscar e dizer "Manda uma mensagem, eu tô aqui pra isso". Tem gente que ouve até o coração, por que não um celular? 

Um dia pensei que essa história de gostar junto é melhor do que gostar sozinho. Gostar junto é aproveitar os pontos bons e ruins de todas as pessoas, e todo esse blablabla que lemos diariamente na internet e programas de auditório. Francamente? O que seria de todo meu sofrimento se existisse um sorriso ao lado?

Gostar direito, é gostar mesmo longe.

Por isso que quase ninguém entende as entrelinhas do amor.