domingo, 10 de fevereiro de 2013

O barato de ser somente só



Existe dias na vida de um cara em que ele toma a consciência de que é só mais um cara.

Só mais um cara andando nas ruas em uma segunda-feira, só mais um cara bebendo cerveja após o expediente, só mais um cara sendo

Ninguém gosta do Frank Sinatra cantando alto pelas paredes do meu quarto, ninguém gosta dos meus filmes em preto e branco onde a mocinha nunca fica com o mocinho, ninguém entende minha vontade de comprar um livro apenas por gostar da capa.

Tenho dias de cão, e outros de gato. Dias em que preciso pular no colo de alguém e implorar atenção, lamber o rosto da pessoa e uivar quando sinto sua falta. Outros, fico deitado nas cobertas com cara de tédio e comendo porções enlatadas enquanto me escondo do mundo. Tem dia que sou mais gato do que cão.

Sou fácil de ir embora, mas sou mais fácil de voltar. Diga que tem uma cama confortável, um pouco de carinho nas horas vagas e, quem sabe, um coração descongelando na geladeira. Eu fico. Diga que tem um cigarro dentro da gaveta, e eu fico. Ninguém precisa inventar desculpas ou sentimentos para me ter, um dia de amor vale por dois de desespero.

Não preciso de muito amor. Pouco amor me basta. Desde que seja amor.

Uma vez me falaram que só sei amar o impossível, só sei querer o que não posso ter. Nunca tive muita coisa, talvez por isso sempre desejei ter muito. Um cara simples, que tenta se vestir bem e comer coisas saudáveis para não ficar velho e gordo, é só isso o que faço.

Não estou nem perto de ser realmente sozinho, tenho amigos em uma roda, conhecidos em uma avenida, e corações entregues em minha porta todos os dias. A solidão vem de dentro. Minha solidão vem de não ter onde me esconder quando só quero fugir dessa cidade cheia de sonhos vazios e lugares lotados de gente fedendo a cigarro e cerveja derramada na camisa de duzentos reais.

O bom de fingir que é só, é não dever nada a ninguém... Inclusive a si mesmo.