terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pós (Pré) Ressaca

Hoje acordei feliz.

Não é que seja raro, sorrisos me acompanham na maior parte do tempo, mas hoje, simplesmente, acordei com o coração cantarolando felicidade. Não tenho um grande amor, o mundo esta um caos, mas, o que a vida tem de ruim, há de ser que tenha de bom também.

Amigos. Amigos são tudo o que tenho. Me levantei já chamando cada um e todos para o que mais gosto de fazer, ir ao cinema. Ah, como é bom sentar em uma cadeira na escuridão total e saber que nem vontade de ir ao banheiro irá lhe tirar daquele lugar.

A verdade é que ninguém mais tem tempo ou vontade para pequenas doses de felicidade. "Hoje é sexta, vamos fazer algo melhor." Ouvi isso de cada um dos meus amigos. Pelo o que entendi, nos séculos em que passei mais tempo em casa do que na rua, cinema só era algo ideal de domingo à quinta. Sexta feira a tal ditadura alcoólica era imposta.

Quem está feliz come até jiló, minha avó dizia. Coloquei o mesmo sorriso no rosto de quando acordei e fui para a melhor balada da cidade, segundo as pessoas do outro lado do telefone.

A regra em boate é simples:

1º Fique na fila por mais tempo do que passa em casa se arrumando para ir.
2º Ainda na fila, observe os conhecidos, pode ser que consiga "furar" fila e deixar alguém com bastante raiva por isso.
3º Quando conseguir entrar, passe mais tempo na fila para buscar uma bebida, nessa hora não existem conhecidos, as pessoas se preocupam mais em beber do que em entrar. Certamente você irá arranjar alguma briga.
4º Procure um lugar e tente permanecer lá até o final da festa, fazendo rodizio com seus amigos. "Vou sair daqui rapidinho e já volto, fique aí."

Com o terceiro copo de bebida na mão, observei todos naquele lugar. Quanta gente feliz, pensei. E acordei me gabando da felicidade que estampou-se no meu peito, parece que isso de ser feliz não é algo tão raro, em fim.

Quando meu amigo me puxou para outro grupo, dizendo que conheceu eles na última balada e eram pessoas incríveis, pensei que finalmente pudesse interagir com outras pessoas além do meu ciclo de amizades.

Os assuntos em boates também são simples:

1º Comentários sobre as antigas festas, comentários sobre as futuras festas.
2º Sobre como alguém machucou seu coração e o álcool ajuda a melhorar tudo. (Nessa hora um "vamos beber mais" é dito com o copo levantado)
3º -

A verdade é que passei metade do meu tempo tentando fugir de algo, mas não sabia exatamente o que era. Em determinado momento, enquanto esperava outra fila para entrar no banheiro e fumava um cigarro que ganhei de algum desconhecido, percebi que meus amigos não tinham o mesmo sorriso dentro de baladas. Um deles conversava, sorria e olhava para o lado, como se estivesse apenas flertando com alguém que provavelmente estava acompanhado. O outro estava marcando de sair com uma pessoa que não via há anos, e provavelmente nem estava com vontade de ir, mas precisava bancar o educado. Se a fila para o banheiro não estivesse tão grande, iria correndo dar um abraço neles e dizer que tudo ia ficar bem.

Só que no mundo da balada, ninguém entenderia um abraço sincero, no máximo seria entendido como desespero. Enfrentei a fila de bebidas novamente, comprei uma água, e temi pelo dia já estar amanhecendo, quando olhei no relógio, eram apenas duas da manhã.

Peguei a fila para sair e fui para a casa.

No outro dia, quando acordei, lembrei que havia ido para dançar e não entrei nenhuma vez na pista.

 Talvez por isso gosto tanto de ficar em casa,

 pelo menos sabemos que se a tristeza bater,

 a gente pega a solidão

e dança.


-

 *Esse texto faz parte de uma realidade pessoal inventada.*

Odeio cinema, mas adoro ficar em casa. Sou alguém que vai em balada, mas estou na fila da saída às duas da madrugada.

, Luana Costa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sete pedaços de queijo





Há duas coisas que gosto na vida.

Meu gato e a Lua.

A Lua sempre apareceu sem chamar, sem querer meio querendo. Dona de si. Tem dias que vem pelas metades, mas sempre há de vir.

O meu gato não é muito diferente. Não procurei. Apareceu e destruiu a minha casa em uma semana. Meu edredom preferido está hoje jogado em algum canto da lavanderia, e meu sofá ganhou uns arranhados novos.

A Lua vem e vai, mas sei a hora de esperar aparecer. Meu gato me arranha e sai, mas sempre coloco comida em seu pote.

Algumas pessoas acham que vão para o céu. Torço para que um dia, quando morrer, tenha gente que vá para a Lua. Brilhar de longe, e ficar com cheiro de queijo no corpo. Não me importo de cheirar à gorgonzola, desde que meu mundo, sempre seja da Lua.

Gato tem sete vidas, e quer a gente em cada uma delas. Não abana o rabo, pelo contrário, é um militar em serviço 24 horas por dia. Te protege, mas não sorri. Te ama, mas exige amor. A gente aprende a amar um pouquinho mais, e a esperar um pouquinho menos.

Meu gato olha para a Lua da janela todos os dias.  Talvez no final das sete vidas, ele também queira cheirar à gorgonzola.

A Lua é silenciosa, mas já escreveu vários poemas. Quem sabe ela não queira um dia abrigar um poeta.


Que sorte a nossa que não é só de pessoas que se vive esse mundo. Que sorte a minha que há duas coisas que gosto...

Meu gato, e a Lua.





quarta-feira, 21 de maio de 2014

Um amor para cada signo - Parte II

Noélia era uma mulher diferente, a única que conseguia me deixar contente.
Inteligente e sagaz, com ela sempre me sentia um pobre rapaz.
Jogava comigo com palavras, me deixava no chão, 
e quando menos esperava, Noélia voltava jurando paixão. 
Organizada e carente, para não bagunçar a cama, era no sofá que nós rolávamos assiduamente. 
Houve a vez que deixei a toalha molhada no colchão,  fui obrigado a ouvir um festival de palavrão.
Com esta, parti sorrindo, ela era de virgem, e eu apenas segui meu destino. 
Forte e destemida, deixei que Noélia fosse apenas um passado na minha vida.



Por um tempo fui amante de Catarina, como era incrível aquela menina.
De hora em hora queria sair, mesmo se não tinha pr'onde ir. 
Dizia que seu marido não a amava, e era por isso que Catarina me procurava.
Gostava do cheiro de seus cabelos, era isso que me tomava por inteiro.
Em um final de semana fomos para a praia, no outros planejávamos férias no Himalaia.
Nunca conseguimos nos amar, pois sabíamos que não iria durar.
Minha eterna aquariana, até o dia em que seu marido nos pegou na cama.
Um tiro ele deu em sua cabeça, e por Deus, antes que Catarina enlouqueça, 
sai correndo pela porta da frente, sem sequer pensar em deixar remetente. 



Geórgia gostava de ler, foi na livraria que conseguimos nos conhecer.
Era bem mais nova, não nego, mas em questão de maturidade, me deixava no chinelo.
Tímida e calada, não conseguia decidir quase nada. 
Quando fazia propostas de sair, nunca sabia se realmente queria ir.
Contudo, quando estava em sua companhia, de tão linda, era de orgulho que me enchia.
Sua indecisão me irritava, e era paciência que me faltava.
Era de peixes, mas vivia no ar, mal sei como passou na faculdade em primeiro lugar.
Foi morar fora e me largou na sarjeta, e lá se foi outro amor perdido na gaveta.



Já Gabriela era de veneta, jamais soube o que se passava em sua cabeça. 
Em um dia queria me amar no mar, no outro estava prestes a me matar.
Me contava de todos seus relacionamentos, sem saber se iria magoar os meus sentimentos.
Excelente de sexo e prosa, para ela sempre levava meu melhor abraço e rosas.
Queria ser do mundo, e não parava de sonhar alto por um segundo.
Nossas brigas e discussões sempre foram sem sentido, sentia que para ela, talvez eu fosse um amigo.
Me largou sem deixar cartas, telefonemas ou bilhetes na geladeira, até achei que fosse brincadeira.
Era de gêmeos e nunca sequer conheci o seu outro lado, quem sabe foi isso que me deixou tão revoltado.



Louise foi a minha última ilusão,
não achava que poderia existir alguém tão pé no chão.
Na frente dos seus pais não podia beijar,
dentro do meu carro só faltava me sufocar.
Conversava o dia todo sobre os vizinhos,
e se precisasse sair, não poderia ir sozinho.
Dizia que iria me curar dos antigos amores, e se precisasse, sentiria minhas dores.
Não gostava de se aventurar, e era isso o que me fez repensar.
Um dia peguei minhas coisas e fui-me embora, achei que havia chegado a hora.
Não poderia ficar com alguém tão pacato e sensível, meus antigos amores me fizeram um ser desprezível. 
Sabia que não se podia fazer sofrer uma taurina, mas não conseguia viver em um mundo sem adrenalina. 



Quando me apareceu Manoela, estava sentado na praça alimentando os pombos, sem poesia alguma, sem ninguém ao meu encontro.
Contou-me que tinha cinco passarinhos, e estava pensando em adotar outro canarinho.
Fomos morar juntos após três anos de relacionamento, 
meus cabelos brancos começaram a aparecer neste momento.
Pensava demais, sobre tudo, sobre todos. Não conseguia responder uma pergunta na mesma hora: "Preciso refletir." Quase sentia que estava me dando um fora.
Com ela não havia problema, foi com Manoela que vivi minha história de amor de cinema.
Em fim posso parar de falar no passado, pois é com uma sagitariana, que nunca mais senti meu coração amargurado. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Um amor para cada signo

Quando conheci Amélia não imaginava que seria assim.
Tirou tudo que tinha, me sugou até o fim.
Me provocava no bar, e em cada esquina.
Se sexo fosse um crime, com certeza ela seria uma assassina.
Não gostava de conversar, só de fazer amor, na cama era divino,
mas sua fidelidade um horror.
Se julgava apaixonada, para mim não faltava mais nada.
Até o dia em que num barco subiu Sebastião, e Amélia foi atrás de sua grande paixão.
Não me importei com as ferroadas, afinal, de escorpião não se espera mesmo nada.



Em seguida namorei Rita, meu Deus, como era bonita.
Escrevia poesias na luz do luar, sonhava até em se casar.
Me apresentou para seus pais e me contou seus desejos mais banais.
Quase nunca mudava de ideia, comecei a delirar que iria pedir a mão dela.
Foi então que para o trabalho precisei viajar, e Rita se pôs a chorar. 
Mimada que só ela, bateu o pé no chão e gritou: 
"Pois pode ir, mas também vou."
Com capricórnio não dá para se discutir, 
arrumei as malas e me forcei a partir.
Pena que Rita não pôde ir.



Um ano depois encontrei minha ex, Raquel, e já fomos direto para o motel.
Conversamos durante toda a madrugada,
comecei a pensar que ela poderia ter sido a pessoa certa na hora errada.
Seu beijo me engolia, seu olhar me rendia e já estava pronto para
pedir que em sua vida, eu lhe fizesse companhia.
Semana depois, em um jantar para dois,
Raquel me viu olhar para a mesa ao lado, e disparou a berrar
que eu era um safado.
Mudado não havia nada, continuava sempre irritada, sentimental e impulsiva.
Deveria ter imaginado, nessa vida, com uma pessoa de áries 
não se deve criar expectativa.



Meu relacionamento com Olivia se iniciou na Bolívia.
Viajamos o país inteiro, ela jurava que eu era o seu primeiro.
Sempre alegre e feliz, um pouco brava, mas sabia o que diz.
Conversava sobre diversos assuntos, e pensamos até em morar juntos.
Engano o meu.
Um dia Olivia apareceu, estava tão confusa que até confusão me deu. 
Contou que não sabia o que faria, mas de manhã estava indo morar na Bahia.
Tinha a alma em libra, e sempre foi de ter mistérios. 
Depois de uma libriana, a gente costuma aumentar o critério. 



Houve o dia em que não havia mais nenhuma mulher em minha cama, logo mais conheci Ana.
Quase não falava de si, era um orgulho que nunca vi.
Se irritava com tudo, gritava e esperneava, com essa pensei: Jamais que eu casava.
Ana era animada, ia para festas e lá que se sentia amada.
Sabia que não era o seu primeiro, tampouco o terceiro, mas por um tempo foi ela que me fez inteiro.
Sensível que ninguém entende, não foi por muito tempo que fiquei contente.
Como é cruel a personalidade de câncer, estando bem ou mal, 
elas só querem mesmo é romance.



Me surgiu então Helena, com ela não havia nenhum problema.
Sempre jovem e sorridente, dizia que era eu o seu melhor pretendente.
Do sexo nunca reclamei, me trazia presentes e me tratava como um rei.
Sempre engraçada e disposta, meus amigos tinham até medo de que um dia, ela me desse as costas.
Três anos depois descobri: Helena era casada e durante todo esse tempo conseguiu encobrir.
Nem sequer sabia que Helena sabia mentir.
Leonina que dava dó, não conseguia ficar só.
Um belo dia desapareceu, e quem ficou só, foi eu.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Aluga-me



Tem quem diga que sou só mais uma casa abandonada no bairro desta cidade com pessoas desertas. Quem sabe essas vozes dizem a verdade, talvez a verdade não exista por aqui.

Fui construída anos atrás, por um senhor de barba branca e olhos cor de mel.  Quando ele capinou o último canteiro de terra fiquei triste em saber que nunca mais o veria. O ser humano tem dessas coisas: constroem mas não querem morar. Com o passar do tempo muita gente vivia dentro de mim, mas todas iam embora. Descobri que não era eu o problema: pessoas sempre querem partir.

Passei a não me importar se eu seria uma casa bonita, com um grande jardim e flores na varanda. Quando alguém queria me visitar para comprar, não deixava mais minhas janelas abertas e a grama verde, só um ou dois gatos deitados no tapete da entrada. Algumas crianças jogavam pedras nos vidros, lixo no quintal e seus pais não se importavam, afinal, ninguém mora ali.

O único momento em que sorria era pelas manhãs. Os pássaros repousavam sob meu telhado e cantavam até sentirem fome. Algumas vezes eles ficavam até felizes pelos insetos que encontravam nas telhas. Com os pássaros eu podia ser quem era. Quando iam embora, gostava de me divertir olhando as pessoas indo para suas casas almoçar. Sentia falta do cheiro da comida fresca entrando pela minha madeira da entrada frontal. Tem quem não saiba, mas as casas se alimentam do cheiro e se esquentam do fogo das lareiras.

As casas novas, e isso era fácil de se notar, possuíam uma leveza por saber que todos desejavam viver nelas. Quando uma casa é construída não sabe nada sobre móveis, decoração, ou o que é alguém chegar cansado do trabalho e simplesmente se sentir no melhor lugar do mundo.

A tristeza que carrego é por saber que pouca gente nota que também possuo uma leveza particular, onde o sol bate e a lua reflete na vidraça do quarto. Já enfrentei muita briga onde nem sempre a mala continua no armário e o cheiro de roupa guardada é trocado pelo meu piso úmido de lágrimas. Só que já vi um sorriso quando a mala volta pro lugar e um abraço mostra ser mais forte do que gritos espalhados pelos meus corredores.

Ninguém quer ser ou morar em uma casa abandonada. Tristeza assusta a metade das pessoas que conheço. Algumas tem medo de ratos, outras suspeitam de fantasmas, umas dizem não saber lidar com mofo. A verdade é que ninguém mais sabe lidar com situações e ambientes fora de sua zona de conforto, onde precisam ser o que não são e fingirem ser felizes com isso.

Posso até ser uma casa velha e antiquada, mas até um senhor de barba branca e vestes rasgadas pode me deixar reformada e feliz.

Mas e as pessoas, o que faço com elas?