segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Pode pagar com amor?




Quando a gente cresce o amor não paga as contas.

O amor dos meus pais pagou minhas dívidas até sentirem vontade de rodar a Europa juntos em eterna lua-de-mel. Fiquei com o apartamento e dois cachorros. Apartamento não enche barriga e compra produto de limpeza, até mesmo os baratos, e xixi de cachorro não sai tão fácil como todos pensam. 

Por incrível que pareça as roupas não aparecem dobradas depois de lavar e o presente de Natal da minha namorada não surge como mágica embaixo da árvore. Como minha mãe pôde ir embora e esquecer de me passar o número da loja que a Débora gosta? Qual é mesmo o tamanho que ela veste? Acho que deve ter aumentado dois números. Débora deu uma engordadinha e ficou a coisa mais linda do mundo, mas mulher sempre acha que o "tal do homem" engana, não é mesmo? Talvez esse ano dê até chocolates de presente!

Arrumei um emprego mês passado! Tô orgulhoso demais! Pena que o dinheiro que sobra não compra mais que duas caixas de cerveja e oito camisinhas. Melhor diminuir a cerveja e comprar mais preservativo, acho que alimentar um filho é mais caro do que dar ração para o Rupert e a Lisa. 

Aliás, nunca passou pela minha cabeça que um pacote de ração é tão caro assim. Etâ diacho, quando emburrava com a mãe pelo safanão de não ter levado os cachorros para passear. Dizia que essa era minha única responsabilidade na vida e daqui uns anos iria sentir saudade. Tava certa, ô mulher que sabia cuidar desta casa. Homem é lerdo, sabe cuidar de tanta coisa assim não.

Minha namorada disse que amadureci demais depois que aprendi a comer pão com ovo pra não dormir com estômago roncando de fome. Não discordo, amor dela não paga as contas, mas me faz um bem danado,

Depois que a gente vai morar sozinho aparece amigo demais no apartamento, mas também desaparece vários quando a dispensa está vazia e o bolso furado. Vez ou outra o Fábio, meu amigo de infância, surge com uma carne e macarrão! O amor dele não paga minhas contas, mas sabe me encher de orgulho! Até dou conselhos sobre mulheres para ele, onde já se viu. Rapaz gordo e peludo como eu ensinando para o Fábio como impressionar meninas. 

Sei que tudo anda apertado e o país está nessa onda de crise, mas Débora disse que aceitaria comer pão com ovo todo final de semana só pra ficar ao meu lado assistindo esses desenhos que ela jamais vai entender. 

Minha mãe liga toda segunda para saber dos cachorros e perguntar se aprendi a fazer arroz soltinho, E o Fábio sonha em se formar e abrir um escritório comigo! O cara tem grana, mas sabe fazer valer o talento de não dar importância para dinheiro. Tem gente que sabe se valer a pena. 


O amor não paga as contas, mas que te faz ser rico pra caramba, ah, como faz!

sábado, 15 de agosto de 2015

E se quiser falar de saudade?



E eu que não consigo te esquecer, me distraio com a previsão do tempo, com um jornal da semana passada que ficou jogado em qualquer canto, enquanto procurei ser feliz sem você. A verdade é que consegui ser tão feliz sem você, que me doeu. Doeu saber que nas horas vagas, não procurava mais seu cheiro, e sim um lugar qualquer para descansar. Doeu quando percebi que não doía ao te ver sorrindo em outro lugar, além daqui. Quis que voltasse todos os dias, voltasse aos pouquinhos, como se tivesse com medo de encontrar meu coração diferente, mas sabendo que no fundo tudo estaria igual.

O orgulho nos fraquejou. Nos comeu vivos e não conseguimos sequer lutar ao nosso favor. Onde está o amor nessas horas? E a resposta vem como um tiro: Ainda está aqui. E eu que não consigo te esquecer, passo meus dias entre livros e poeira, entre sorrisos e paixões. Isso não anulou sentimento, minha menininha. É o que sempre achamos que seria. Um privilégio. Sorte grande de uma vez na vida. Com sorte não se brinca, deveríamos ter levado o amor mais à sério. 

A verdade é que não quero te esquecer, não quero beijar as bocas que beijo ou sentir meu coração se alegrar de novo. Minha alegria ao te amar não morreu, meu bem. O que morreu foi só o seu amor quando decidiu sem olhar nos meus olhos, fazer as malas e partir. 

E que falta de sorte a minha. Mesmo sem malas prontas e beijo de despedida, fui correndo atrás do seu vagão acelerado. Sem saber que o meu destino, era partir junto.