quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Te deixei passar



Te encontrei na rua semana passada e pensei em dizer olá. Passos tão despercebidos, cigarro na mão, rosto maquiado provavelmente desde cedo.

Entrei em uma banca de revistas e fiquei segurando a mão fechada entre o peito. O dono se assustou e perguntou se alguém havia tentado me assaltar, apenas respondi que minha asma atacou e precisava de um lugar para sentar.

Não, nesse dia você não estava com ele. Andava dona de si, talvez procurando seu carro estacionado em algum lugar onde não se lembrava. Quem sabe com duas ou quinze mensagens dele perguntando onde você está e querendo saber sobre o seu dia. 

Em que momento você deixou de querer saber sobre o meu?

Penso que talvez ele não queira empurrar receitas estranhas sob sua mesa e faça apenas macarrão com salsicha que é seu prato preferido. Nunca te fiz macarrão com salsicha, não é? Jurei que teríamos tanto tempo. Vai, não mente, cê também jurou.

Há um ano nesse mesmo minuto estávamos prontos para nos conhecer. Com dentes limpinhos e sorrisos tímidos. Como aquele riso que te vi entregar no dia em que fui na sua casa pela primeira vez, onde derrubou todos meus dvds no chão e encurvei os lábios como se tivesse conhecido a menina mais linda do mundo. 

Sofri sem a gente demais.

Sofri porque não podia mais te levar pães de queijo todo domingo. Sofri porque enfiei a saudade goela a baixo com tequila e tequila sempre me fez vomitar, mas dessa vez não vomitei. Acordei com febre e suor tantos dias e me arrastava até a maleta com os remédios para dormir a tarde inteira e não sentir dor. Noutros, o frio era tanto que vestia os casacos empoeirados e limpava cada gota de água que saia do meu olho com aquela poeira e sequer me importava.

Sofri porque mandei mensagem dizendo que não era justo o que o mundo fez com a gente, e tive como resposta a sua preocupação em não aguentar ver ele sofrer ao imaginar te perder, e por isso era melhor que eu sumisse de vez.

Sumi. Sumi devagarinho. Em cada esquina que vi apertarem a mão forte e em que apoiou sua cabeça no peitoral dele.  Sumi todas as vezes em que um amigo olhou pro lado quando falei seu nome e sumi quando percebi que no lugar da cama onde te abraçava, agora só me resta roupas usadas que não tenho a menor vontade de lavar.

Sumo quando sinto saudades. Quando te vejo andar na rua e preciso me esconder em uma banca de revistas para não chorar na sua frente e pedir explicação pela décima vez. 

Te ouvir dizer pela décima vez que não tem explicação.


Pensei em dizer olá, mas ao invés disso, te deixei procurar seu carro, dar partida, e passar pela banca de revista. 

Não quis causar problema, vai que ele fica sabendo e sofre?



quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Amor não tem Ex




Hoje estava limpando sua parte do guarda roupa e encontrei uma camiseta minha em sua gaveta, o que não faz diferença pois tudo que é meu, era seu.

Sentei na cama indignado por não ter tirado tudo da gaveta e questionando se na verdade fiz de propósito para caso voltar, ter algo para vestir. Dormir sem roupa era uma coisa minha, você sempre gostava de usar camisetas largas mesmo no calor.

Pensei em mandar alguma mensagem perguntando se o tempo quente continua atacando sua gastrite e por isso precisa dormir no quarto da sua mãe com o ar condicionado. Se as noites de insônia, palheiro e música continua te fazendo ir para a janela toda noite olhar para a cidade meio parada, meio acesa, meio sem a gente.

Até quis te mandar uma receita que vi na GNT de um folheado incrível que faria passar a noite reclamando que te faço comer demais, mas não saberia viver sem nossos jantares na varanda aos domingos. Te recomendar um vinho que descobri sem jeito em um jantar de família, e quase roubei para beber escondido na sua casa de madrugada.

Comecei a me perguntar se continua estudando todos os dias pelo menos uma hora e se sua gata ainda esconde quando chega visita, mas quando pegamos no sono, amanhece em cima da nossa barriga. Me perguntei até se essa história de terminar de uma vez por todas não soou como babaquice em sua cabeça, afinal, o que foi mesmo que aconteceu com a gente?

Se aparecesse agora provavelmente iria me esconder. Desligar telefone, trocar endereço, calar o coração com o silêncio do pesar dos dias sem você.  Se voltasse para mim neste instante, diria que não lembro das suas manias e não resta nada seu pelo meu apartamento.

É que na realidade, cê nunca foi embora de verdade, sabe? E enquanto ouço falarem que é só mais uma ex, meu coração te lê como atual.



Como explicar isso tudo pra você, se tudo o que nos restou foi essa camiseta?