Não gosto de praia. Pessoas felizes com areia entre os dedos, sal na pele e gotas de picolé sujando o queixo, tudo isso me causa arrepios. Era ali que estava, entre pessoas jogando bola, acertando cabeça de idosos sem querer e sorrindo sem graça com marca de óculos no rosto.
A verdade é que todo coração despedaçado procura algo de errado no mundo para encarar seu próprio desalinho.
O que acontece quando os meses passam tão rápido e na sua mão continua o mesmo cigarro esperando a última tragada?
Era pra ser o nosso ano, combinamos isso há um ano atrás enquanto tomávamos aquele chopp barato. Nenhum e-mail. mensagem ou sorriso inesperado foi encontrado.
Respirei como se fosse um alívio ter forças para continuar, mesmo sem entender o que acontecia. Tal como um cachorro que foi resgatado e parou em um canil, mas acha que a jaula é pior do que viver na rua. Nunca sabemos se alguém virá nos adotar, mas o mundo nos joga sempre em um abrigo qualquer com a esperança que sim.
Me criei pelas beiradas, como quando acaba a energia pela noite e não sabemos andar pela casa. Jurei que iria aparecer com um riso rouco, lanternas e confessar que era tudo uma brincadeira. Tive que aprender a fazer fogo para enxergar que suas coisas não estavam mais por lá e o calendário marcava outro dia, mês e agora, ano.
Tudo bem, não doeu tanto ver que os dias passavam mais lentos do lado de cá. Por aí o ano pareceu carnaval, sambou com os confetes e pedaços do peito colorido que lhe entreguei. Pro teu coração covarde, tudo sempre foi festa.
Sua imagem se tornou apenas um grande ponto de interrogação na garganta e um choro consumido pela minha falta de adestramento emocional.
Não gosto de praia, mas hoje me sinto bem com os pés na areia. De certa forma te imitando, é bom saber que vou começar o ano com algo que não gosto.
Era pra ser o nosso ano e se tornou apenas o seu.
Já que foi embora por descobrir que mesmo na praia tudo não é tão perfeito assim,
E não gostava mais de mim.
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